Compulsão é isto: perda das rédeas da própria vida, a escravidão do hábito.
Compulsão não é indisciplina, nem falta de força de vontade, não é descaso consigo mesmo, com os outros ou com a realidade.
As diversas formas de compulsão, ligadas a jogo, compras, sexo, drogas, comida, etc são expedientes psicológicos de natureza múltipla, pois também possuem vertentes biológicas e sociais, que provavelmente funcionam como um movimento de aplacamento de uma angústia básica e severa, resultante de uma incompletude no ser. Alguns diriam que todos nós de alguma forma nos sentimos incompletos e angustiados. Mas é diferente. O compulsivo não possui recursos próprios de enfrentamento de suas dores, de sua falta de sentido na vida.
As ações compulsivas que repetidamente realiza - apesar dos prejuízos que trazem, dão a ele uma sensação de encontro e sentido, só que bem temporário, como o efeito de uma droga qualquer.
Para entender facilmente o que é compulsão, imagine-se controlando um cão bravo de tamanho grande, usando apenas uma coleira comum. Ele vai te arrastar. O comportamento compulsivo é uma reação involuntária que responde a desejos incorporados ao psiquismo de uma pessoa que mesmo consciente dos prejuízos do seu comportamento, se rende a uma força bem maior, que a arrasta como um forte animal desobediente aos comandos e interesses daquele que pretende conduzi-lo.
Muitos pacientes compulsivos possuem histórias de vida cheias de complicadores, como rejeições, descasos, inferiorizações, frustrações e uma estrutura psicológica frágil diante do enfrentamento das agruras cotidianas que fazem parte do mundo. Não são todos. E na verdade não temos na literatura um fechamento etiológico neste sentido.
Independente de causas, saibamos que o paciente compulsivo precisa de uma rede familiar e fraterna de apoio, pois o seu ego – sozinho – não dá conta de dizer não e nem de trocar a coleira por uma que seja mais eficaz.
Precisa de psicólogo, de psiquiatra, de você. Dificilmente veremos um compulsivo grave que não tenha por trás uma família bem comprometida psicologicamente. E muitas vezes ele representa o papel do louco em uma família que tem dificuldade de admitir seus erros.
(Walmir Monteiro).